sábado, 16 de março de 2024

O egoísmo / Selfishness.

O egoísmo.

913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?

“Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.”

914. Fundando-se o egoísmo no sentimento do interesse pessoal, bem difícil parece extirpá-lo inteiramente do coração humano. Chegar-se-á a consegui-lo?

“À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais. Depois, necessário é que se reformem as instituições humanas que o entretêm e excitam. Isso depende da educação.”

915. Por ser inerente à espécie humana, o egoísmo não constituirá sempre um obstáculo ao reinado do bem absoluto na Terra?

“É exato que no egoísmo tendes o vosso maior mal; ele se prende, porém, à inferioridade dos Espíritos encarnados na Terra e não à humanidade mesma. Ora, depurando-se por encarnações sucessivas, os Espíritos se despojam do egoísmo, como de suas outras impurezas. Não existirá na Terra nenhum homem isento de egoísmo e praticante da caridade? Há muito mais homens assim do que supondes. Apenas não os conheceis, porque a virtude foge à viva claridade do dia. Desde que haja um, por que não haverá dez? Havendo dez, por que não haverá mil e assim por diante?

916. Longe de diminuir, o egoísmo cresce com a civilização, que até mesmo, parece, o excita e mantém. Como poderá a causa destruir o efeito?

“Quanto maior é o mal, mais hediondo se torna. Era preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo. Quando se houverem despojado do egoísmo que os domina, os homens viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então o forte será o amparo e não o opressor do fraco, e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos praticarão a lei de justiça. Esse o reinado do bem, que os Espíritos estão incumbidos de preparar.” (784.)

917. Qual o meio de destruir-se o egoísmo?

“De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se, porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se, e para cuja manutenção tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro real, e não desfigurado por ficções alegóricas. Quando, bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo assenta na importância da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.

“O choque, que o homem experimenta, do egoísmo dos outros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem, o princípio da caridade e da fraternidade, e cada um pensará menos na sua pessoa, ao ver que os outros também com ela se preocupam. Todos experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que com frequência absolutamente lhe não agradecem. Principalmente para os que possuam essa virtude é que o reino dos céus se acha aberto. A esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, será posto de lado todo aquele que em si somente houver pensado; sofrerá, então, o próprio abandono.” (785) - FÉNELON.

Louváveis esforços indubitavelmente se empregam para fazer que a humanidade progrida. Os bons sentimentos são encorajados, estimulados e honrados mais do que em qualquer outra época. Entretanto, o egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima. Cumpre, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade epidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. Procurem-se pois em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências que, ostensiva ou ocultamente, excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação; não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar-se que, para exercê-la com proveito, baste possuir conhecimentos. Quem acompanhar, assim o filho do rico, como o do pobre, desde o instante do nascimento, e observar todas as influências perniciosas que sobre eles atuam, em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que os dirigem, observando igualmente com quanta frequência falham os meios empregados para moralizá-los, não poderá espantar-se de encontrar pelo mundo tantas coisas erradas. Faça-se com o moral o que se faz com a inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, muito maior do que se julga é o número das que apenas reclamam cultivo adequado, para produzir bons frutos. (872.)

O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá origem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males, para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o ferem, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos. O seu próprio interesse a isso o induzirá. (784.)

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.

O Livro dos Espíritos – Allan kardec.

Selfishness

913. What vice may we label as the root of the others?

“Selfishness, as we have repeatedly told you. Every wrongdoing can be traced back to selfishness. Study all the vices, and you will see that selfishness is at the root of them all. You will never succeed in eradicating them until, you attack them at their root, only then you have destroyed the selfishness that is their cause. All your efforts should be focused on this end, as selfishness is the plague of human society. All those who attempt to reach moral excellence must uproot every selfish feeling from their hearts, because it is incompatible with justice, love and charity; it offsets all other qualities.”

914. As it is rooted in personal interest, it seems to be very difficult to entirely remove selfishness from the human heart. Is it possible?

“As human beings become enlightened in regard to spiritual things, they attach less value to material things. As they free themselves from the shackles of matter, they reform the human institutions that foster selfishness. This is accomplished through education.”

915. As selfishness is inherent to the human race, will it not always be an obstacle to the reign of absolute goodness on Earth?

“Selfishness is your greatest evil, but it belongs to the spirits incarnated on Earth who are of an inferior nature and not to the entirety of the human race. Consequently, those spirits, in purifying themselves through successive lives, shed their selfishness like all their other impurities. Are there none among you who have rid themselves of selfishness, and who practice charity on Earth? There are more than you think, but they are not well-known because virtue does not seek to bask in the spotlight. If one individual like this exists, why should there not be ten? If there are ten, why should there not be one thousand, and so on?”

916. Selfishness increases with the civilization that seems to strengthen and intensify it. How can the cause destroy the effect?

“The greater the wickedness the more hideous it is. Selfishness has to do a vast amount of harm, so that you may understand how crucial the need is to eradicate it. When human beings overcome selfishness, they will live like brothers and sisters by mutually helping each other through a sense of solidarity. The strong will then support the weak, rather than oppress them, and no one will lack the necessities of life because everyone will obey the law of justice. This reign of good is what the spirits are responsible for preparing.” (See no. 784)

917. How can we overcome selfishness?

“Of all human imperfections, selfishness is the most difficult to uproot. It is influenced by matter, from which human beings, still too close to their origin, have not yet been able to break loose, as human laws, society and education all support it. Selfishness will be gradually weakened as your moral life gains dominance over your material life, through the knowledge that Spiritism gives you regarding the reality of your future life, stripped of allegories and metaphors. When Spiritism is properly understood and identified with beliefs and habits of humankind, it will transform all your customs, traditions and social relations. Selfishness is based on the importance you attribute to your own personality. Spiritism makes you look at everything from such an elevated standpoint that all sense of individuality is lost in confronting this immensity. Spiritism battles selfishness by destroying self-importance and revealing its true nature.”

“Human beings often become selfish by experiencing the selfishness of others, which makes them feel the need to put themselves on the defensive. Seeing that others think of themselves and not of you causes you to think of yourself rather than others. Charity and fraternity must become the basis of all social institutions, the legal relations between nations and individuals. Only then will individuals think less of their own personal interests, because they will realize that others have thought of them. Humankind will then experience the upright influence of example and contact. Amidst the present deluge of selfishness, considerable virtue is needed for human beings to sacrifice their own interests for the sake of others, and those who make such a sacrifice often receive little gratitude for such restraint. Those who possess this virtue are welcomed into the kingdom of Heaven with open arms, while those who have thought only of themselves will be cast aside on judgment day, and left to suffer in loneliness.” (See no. 785) - Fénelon

Praiseworthy efforts are being put forward to help advance the progress of humanity. Kind and charitable thoughts are encouraged, stimulated and honored now more than at any other time in history, and yet selfishness continues to plague society. It is a social disease that affects everyone, of which everyone is more or less the victim, and should be fought like any other epidemic. To this end, we must emulate the methodology of a skilled physician and begin by tracing the disease to its origin. We must seek out, in every division of human society, from families to nations, from the hut to the palace, all the obvious and obscure causes and influences that sustain and foster selfishness. Once the causes of the disease are established, the remedy presents itself spontaneously through the combined efforts of all, and the virus is destroyed gradually. The cure may take a long time, because the causes are numerous, but it is not impossible. That being said, it can only be successful by getting to the root of the evil; that is, through education. Not the education that aims only to educate people; but the one that also aims to make them moral individuals.

Proper education is the key to moral progress. When the art of training the moral nature of human beings is as easily understood as the art of training the intellect, a corrupt nature can be straightened out just like a crooked sapling. However, this practice demands a great deal of tact, experience, and profound observation. It is a huge mistake to assume that possessing scientific knowledge alone is enough to enable the teacher to exercise it successfully. If we study, for instance, the lives of children, whether rich or poor, and note all the bad influences that act upon their weaknesses from the moment of their birth, taking into account the ignorance and negligence of those who are responsible for the upbringing of these children, and the improper means employed in moralizing them, it is no wonder to find so much wrong in the world.. If the same skill and care is given to the training of the moral nature as to that of the intellect, human beings would discover that if there are obstinate natures, there are also, in a greater number than you might think, those who require only the proper cultivation in order to yield good fruit. (See no. 872)

Human beings want to be happy and this natural desire prompts them to work tirelessly to improve their condition on Earth, and seek out the causes of their ills in order to address them. When they understand thoroughly that selfishness stimulates pride, ambition, greed, envy, hatred and jealousy and causes constant distress, that it brings trouble to all social relations, provokes conflict, destroys confidence, turns friends into enemies, and forces each individual to remain constantly on the defense against each other, then they will also see that this vice is incompatible with both happiness and security. The more they suffer from selfishness, the more intensely they feel the need to fight it, just as they fight diseases, dangerous animals, and every other source of disaster. They are compelled to act as such out of their own best interest. (See no. 784) Selfishness is the source of all vices, just as charity is the source of all virtues. Destroying one while developing the other should be the goal for all those who seek to guarantee happiness in the present life and in the next.

The Spirits’ Book – Allan Kardec.

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