terça-feira, 7 de novembro de 2017

A Liberdade - JUVANIR BORGES DE SOUZA

O ser humano sente a necessidade da liberdade de pensar e agir como inerente a si mesmo.
Essa inclinação à liberdade decorre da própria natureza do Espírito, criado simples e ignorante, mas dotado de vontade, inteligência, instinto e livre-arbítrio.
É curial que, simples e ignorante, sua liberdade é limitada pela sua condição. Não se pode conceber uma criatura limitada dotada de qualidades sem limites.
À medida que o ser cresce, ampliam-se seus poderes, na mesma proporção.
A liberdade individual aumenta com o crescimento intelectual e moral do Espírito, mas o homem nunca poderá jactar-se de gozar da liberdade absoluta. (“O Livro dos Espíritos”- q. 825).
A melhor forma de conceber-se a liberdade consiste em vinculá-la sempre à responsabilidade que lhe corresponde.
Desde que o homem vive na Terra tem exercitado seu livre-arbítrio, mesmo sem a noção clara do que ele representa.
O homem das eras primitivas e o indivíduo brutalizado e ignorante dos dias atuais jamais deixaram de gozar de certa liberdade, limitada pelo determinismo da lei divina.
Mesmo as múltiplas formas de escravidão jamais conseguiram dominar a liberdade do pensamento íntimo do escravo, “pois que não há como pôr-lhe peias.”
É de grande profundidade o ensino dos Espíritos Superiores, a partir do século passado, quando trataram da Liberdade como lei moral.
Se comparado o que ficou consignado em “O Livro dos Espíritos” a respeito da liberdade de consciência e da liberdade de pensar, com o que ficou consagrado na “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, cerca de um século depois, verifica-se que a idéia espírita influiu e está presente no importante documento das Nações Unidas, para o bem da Humanidade.
Resta buscar-se a conscientização de todas as populações terrestres para a aceitação e a prática de princípios fundamentais, inalienáveis, inerentes à natureza do homem.
*
O clamor pela liberdade acentua-se na época moderna, após o fim da
Idade Medieval, com o Renascimento, o Iluminismo do século XVIII e a
Revolução Francesa.
Os séculos XIX e XX foram de lutas e de consolidação em prol das idéias libertadoras.
Usos, costumes, abusos, predominância do mais forte, preconceitos contra a mulher, ignorância a respeito de sua própria natureza, instituições absolutistas e autocratas predominaram por milênios na vivência do homem na Terra.
Apesar do chamamento das vozes dos grandes missionários de todos os tempos, o cultivo da liberdade, para se firmar, necessitou a necessita da evolução e do progresso dos conhecimentos e dos sentimentos humanos, para afirmação de uma consciência mais esclarecida.
Somente após consolidadas determinadas conquistas intelectuais e morais, pôde o homem compreender o verdadeiro sentido de apelos como o do filósofo grego – “Homem, conhece-te a ti mesmo” – ou do Cristo – “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
De outro lado, a Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus, somente poderia ser recebida e firmar-se em um mundo já liberto, pelo menos em parte, do autoritarismo, do absolutismo e do fanatismo autocrático.
Por isso é que o Espiritismo, como idéia e como doutrina consolidada e codificada só veio ao mundo em meados do século das luzes, quando considerável parcela da Humanidade estabeleceu em sua legislação princípios fundamentados na liberdade de pensar e na liberdade de consciência, apesar da oposição sistemática dos opressores políticos e religiosos.
O escravagismo, o absolutismo e o fanatismo, formas de dominação do homem pelo homem, encontraram nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade oposições firmes e lúcidas em favor das reformulações nas organizações políticas e sociais.
Esses esforços de libertação, preparados nos dois último s séculos, dos quais a Doutrina dos Espíritos é um exemplo claro, tendem a espraiar-se no próximo futuro.
Torna-se necessário conduzi-los com equilíbrio e sabedoria para que não haja retrocessos.
A liberdade, esse bem inefável, não deve ser entendida em termos absolutos que ela não comporta, mas com as limitações naturais da responsabilidade, repetimos.
Liberdade absoluta para todos seria o império do caos e dos maus.
À liberdade deve ser entendida em termos de realização do Bem, não do mal.
Ela está vinculada ao determinismo divino no sentido do Bem, da
Perfeição, do Amor.
Por isso não se justificam, em nome da liberdade, as trangressões morais de todas as ordens, os crimes, as práticas desagregadoras da família e da sociedade, a irresponsabilidade dos meios de comunicação, e da mídia, o coletivismo opressor, o individualismo irresponsável, enfim, todas as manifestações do mal.
Não se confunde pois, a liberdade, apanágio do homem para a realização do Bem, com a licenciosidade, que a criatura invoca como se fosse liberdade, para pensar e realizar o que bem entende, mesmo que contrário ao estabelecido nas leis de Deus e de César.
O mal é criação dos homens e não dos princípios que eles pretendem encarnar e defender, em nome da liberdade.
*
A Doutrina Espírita está profunda e estreitamente vinculada à liberdade, no sentido que procuramos evidenciar neste pequeno trabalho.
Os espíritas estudiosos convencem-se dessa verdade, que é axiomática.
Na divisão das leis morais os Espíritos Reveladores dedicam um capítulo inteiro à Lei de Liberdade.
Modernamente, a liberdade está na cogitação das massas humanas, dos governos, das organizações e instituições humanas, das religiões, das filosofias.
Mas é preciso segurança no entendimento do que seja liberdade, para não confundi-la com licença para tudo.
A Doutrina nos dá essa segurança, mostrando-nos os erros em torno da natureza e dos objetivos da lei divina da liberdade.
A liberdade é alcançada pelo trabalho digno, pelo amor, pela justiça e pela caridade.
Tanto mais livre será o Espírito quanto mais progredir no conhecimento das verdades eternas e na conquista das virtudes.
O erro é vínculo com a escravidão e com o mal e com tudo que afasta o homem da abnegação e do devotamento aos semelhantes, ou seja, de tudo o que o afasta da justiça, do amor, da caridade, da solidariedade, da fraternidade.
A liberdade, no Movimento Espírita, é a vivência da compreensão mútua por todos, é o auxílio e o apoio recíprocos, no terreno físico ou no moral.
É também a humildade em ação, o combate permanente à vaidade, ao egotismo, ao personalismo, como preocupação permanente do adepto sincero.
É o respeito à lei divina e às leis humanas para promoção da paz e da concórdia no seio da sociedade.
O Cristo é o libertador de todos os que seguem sua Mensagem e aquele que conquista essa liberdade é digno de gozá-la.
REFORMADOR - REVISTA DE ESPIRITISMO CRISTÃO
ANO 117 / NOVEMBRO, 1999 / Nº 2.048
Fundador: Augusto Elias da Silva.

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