quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Mil vidas / Mil vivoj

O poema a seguir transcrito, com a versão em esperanto feita conjuntamente por Sylla Chaves e Benedicto Silva, é da poetisa piauiense Áurea Maria Cruz Ramos da Costa (1922-2005), que nele expressa, de forma sugestiva, sua crença nas vidas sucessivas da alma:

Mil vidas 

Venho de longe, longe, muito longe...
Peregrina de abismos e de espaços.
Cumprindo carmas renasci princesa,
Ora bobo da corte, ora palhaço!

Poderoso e cruel, sem piedade,
Tive aos meus pés escravos e vassalos.
Meu corpo apodreceu em lúgubres masmorras;
Mas fui também donzela enternecida,
Temendo a morte e amando a vida!

Quantas vezes saudades eu senti
De uma aldeia branca, muito branca,
Onde pobre pastora eu vivi!

Depois, seguindo a minha trajetória,
Os meus filhos perdi em luta inglória!
Em bordéis eu dormi com marinheiros,
Naveguei em mil mares sem roteiro.

Fez-se silêncio no vale profundo,
Mais uma vez esqueci este mundo...
Muito tempo passou, quando em novo vagido,
De néctar e de orvalho fui ungido.

Agora, em cada flor eu tenho uma irmã,
Nos meus olhos a vida é manhã.

Um pouco de artesão, um pouco de alquimista,
Faço do amor a suprema conquista.
Em belo e novo transformo o velho e o feio,
De esperanças a Terra eu semeio!
Sonhar, sorrir, amar é minha meta,
Pois Deus me permitiu nascer poeta!

Mil vivoj

De fore, de tre fore mi alvenas
pilgrime tra l’ abismoj kaj la spaco,
mi karme renaskiĝis, jen princino,
jen histrion’ kortega, jen pajaco!

Potenca, senkompata kaj kolera,
malamis min la sklavoj kaj vasaloj,
kaj mi forputris en malhel’ karcera.
Sed poste mi revenis junulino,
de suna vivo arda amantino.

Kaj nune resopiras mi plurfoje
vilaĝon blankan, kie plene ĝoje
mi vivis, kiel simpla paŝtistino.

Poste, doloro en la vojo mia:
mi perdis filojn en batalo fia!
Mi kuŝis en bordeloj kun ŝipanoj,
kaj sur la mar’ ŝipiris sen vojplanoj.

Kaj poste iĝis en la voj’ silento:
miajn memorojn forbalais vento...
la tempo pasis... fine mi revenis:
per roso kaj nektar’ la viv’ min benis.

Fratinon havas mi en ĉiu floro
en mia bela vivaŭroro.

Manlaboristo aŭ alkemiisto,
fabrikas amon mi, fabrikas belon...
malnovon, hidon zorge mi transformas...
mi prenis tiujn ŝanĝojn kiel celon,
kaj amon, revojn, ĉiam kun rideto,
disdonas: Dio faris min poeto!

Extrato do texto - A FEB e o Esperanto
Sugestivo depoimento sobre o Esperanto – Affonso Soares
Reformador - Revista de Espiritismo Cristão
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva
Ano 125 / Junho, 2007 / No 2.139

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