quarta-feira, 24 de junho de 2015

Fixação mental - Martins Peralva.

Podemos definir o estado de fixação mental de uma criatura, encarnada ou desencarnada, com aquele em que ela «nada vê, nada ouve, nada sente além de si mesma”.
Explicar o mecanismo da fixação mental, tal qual se verifica, não é coisa fácil.
O próprio Hilário assim o diz, na consulta que faz ao esclarecido Assistente Áulus:
«Sinceramente, por mais me esforce, grande é a minha dificuldade para penetrar os enigmas da cristalização do Espírito em torno de certas situações e sentimentos. Como pode a mente deter-se em determinadas impressões, demorando-se nelas, como se o tempo para ela não caminhasse?»
Faremos, todavia, o que nos for possível para retransmitir, na pobreza de nossa linguagem e na indigência de nossas noções doutrinárias, as elucidações do venerável Áulus.
A fixação mental pode perdurar durante séculos e até milênios.
O Espírito isola-se do mundo externo, passando a vibrar, únicamente, ao redor do próprio desequilíbrio, cristalizando-se no Tempo.
É como se fosse, em tosca comparação, uma agulha que faz o disco repetir, indefinidamente, a mesma cantilena.
 Se dissermos a um Espírito que se comunica com a mente fixa no pretérito, que nos achamos em 1957, dificilmente compreenderá ele as nossas explicações, uma vez que a sua mente, cristalizada no Tempo, reflete, tão só, fatos e acontecimentos, impressões e sentimentos do passado, os quais lhe causaram profunda e indelével desarmonia interior.
Um Espírito nessas condições pede tempo e paciência dos componentes de um núcleo mediúnico.
O seu esclarecimento exige carinho e compreensão, além de muita vibração fraterna que, envolvendo-o, o levem ao esforço renovativo.
Estudemos o assunto à luz de um simples diagrama.
CAMPO DE BATALHA = {Retaguarda = {Amargura, Lágrimas, Humilhação. {Vanguarda = {Alegria, Felicidade, Glória. VIDA DO ESPÍRITO = {Retaguarda = {Estacionamento nas zonas inferiores, Reencarnações dolorosas. {Vanguarda = {Renovação, Progresso. A mente humana está simbolizada no soldado que luta pela conquista de posições.
Conforme o esforço, a perseverança, o adestramento, ou a má vontade, o desânimo e a inexperiência, ficará ele na retaguarda, entre mutilados e vencidos, ou surgirá, vitorioso, na vanguarda.
O soldado luta por vencer e destruir os inimigos externos.
A mente luta por vencer os inimigos internos, representados pelo egoísmo, crueldade, vingança, ciúme, prepotência, ambição.
O soldado empunhará a espada e o rifle, a granada e a metralhadora.
As armas da mente são a humildade, o espírito de serviço, a bondade com todos, a nobreza, a elegância moral, a disciplina.
Na retaguarda, para o soldado ou para a mente, o cenário é dantesco: amargura, aflição, humilhação, sofrimento.
É a resposta da Lei à preguiça e à negligência.
Na vanguarda, para o soldado ou para a mente, a paisagem é expressiva: alegria, felicidade, glória.
É a resposta da lei ao trabalho e à boa vontade.
A retaguarda, para a mente ociosa, significará estacionamento nas zonas inferiores, após a desencarnação, ou reencarnações dolorosas no futuro.
A vanguarda podemos simbolizá-la no trabalho renovativo, no progresso, na iluminação, no enriquecimento moral e intelectual.
Muita bondade, repetimos, pede o serviço assistencial ao Espírito cuja mente se cristalizou no Tempo.
Assemelha-se, nas reuniões mediúnicas, a um louco, a quem falamos do Hoje, e ele vê, exclusivamente, o Ontem.
«Nada vê, nada ouve, nada sente além de si mesmo. »Os dramas conscienciais que viveu; os conflitos amargos em que se debate; os distúrbios psíquicos originados do abuso do livre arbítrio, se expressam, na atualidade, em forma de alucinação e fixação mental.
Como poderá um dirigente de sessão que apenas saiba usar o verbo culto e eloquente, sem o menor sentido de fraternidade, ajudar um Espírito nessas condições?
Imprescindível se torna, pois, que os responsáveis pelos núcleos mediúnicos aprimorem os sentimentos e abrandem o coração, a fim de que, identificando-se, de fato, com a necessidade alheia, possam amparar com eficiência.
O conhecimento doutrinário e, especialmente, a assimilação do Evangelho à própria economia espiritual, são fatores indispensáveis àqueles que se consagram ao esforço mediúnico, no setor das desobsessões, como médiuns ou dirigentes.
Ainda sobre o mecanismo da fixação mental, ouçamos a palavra do
Assistente Áulus:
«Qualquer grande perturbação interior, chame-se paixão ou desânimo, crueldade ou vingança, ciúme ou desespero, pode imobilizar-nos por tempo indefinível em suas malhas de sombra, quando nos rebelamos contra o imperativo da marcha incessante com o Sumo Bem. »
A reencarnação, em tais circunstâncias, funciona à maneira de compulsório estimulante ao reajuste.
«Intimamente justaposta ao campo celular, a alma é a feliz prisioneira do equipamento físico, no qual influencia o mundo atômico e é por ele influenciada, sofrendo os atritos que lhe objetivam a recuperação».
Que seria da alma que fixou a mente no passado, não fosse a bênção da reencarnação?
Como reajustar-se no Além-Túmulo, se sabemos que, depois do decesso, leva o Espírito todas as impressões cultivadas durante a existência física?
Abençoado seja, pois, o Espiritismo pelos conhecimentos que revela e difunde.
Santificada seja a Doutrina dos Espíritos que duariza de esperanças» as nossas vidas, fazendo-nos compreender que o Grande Porvir nos proporcionará recursos evolutivos que nos compelirão a deixar o sarcófago de nossas paixões inferiores e ascendermos a regiões onde, na condição de servidores de boa vontade, ser-nos-ão concedidas oportunidades de cooperação com Jesus-Cristo na sublime Causa da redenção dos outros e de nós mesmos.
As elucidações que, sobre o problema da fixação mental, nos traz o livro (Nos Domínios da Mediunidade – André Luiz), levam-nos a grafar, nas linhas seguintes, uma nova sub-divisão das formas obsessionais ou obsessivas:
a) — Influência do desencarnado sobre o encarnado;
b) — Influência do encarnado sobre o desencarnado;
c) — Influência do Espírito sobre si mesmo, provocando uma autoobsessão.
As formas consignadas nas alíneas “a” e “b” são as mais conhecidas.
A da alínea “c”, menos frequente, é uma decorrência da fixação do Espírito, encarnado ou não, em situações, fatos ou pessoas.
Pensar demais em si mesmo e nos próprios problemas, determina uma auto-obsessão.
O indivíduo passa a ser o “obsessor de si mesmo”.
Não haverá um perseguidor: ele é, ao mesmo tempo, obsessor e obsidiado.
Obsessão sui generis — reconhecemos, mas que existe, sem dúvida alguma, quer entre encarnados, quer entre desencarnados. É muito difícil de ser removida...
Livro: Estudando a Mediunidade.
Martin Peralva.

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