quarta-feira, 10 de julho de 2013

O ser e o ter na adolescência

A princípio, no conflito que surge com a adolescência, o jovem não se preocupa, normalmente, com a posse nem com a realização interior, face aos apelos externos que o convocam à tomada de conhecimento de tudo quanto o cerca.
Vivendo antes em um mundo especial, cujas fronteiras não iam além dos limites do lar e da família, no máximo da escola, rompemse, agora, as barreiras que o detinham, e surge um campo imenso,  ora fascinante,  ora assustador, que ele deve conhecer  e conquistar, a fim de situarse no contexto  de uma sociedade que se lhe  apresenta estranha, caprichosa, assinalada por costumes e atitudes que o surpreendem. Os seus pensamentos primeiros são de submeter tudo a uma nova ordem, na qual ele se sinta realizado e dominador, alçado à categoria de líder reformista, que altere a paisagem vigente e dêlhe novos contornos. Lentamente, à medida que se vai adaptando  aos fatores predominantes,  percebe que não  é tão  fácil  operar  as mudanças que pretendia impor aos outros, e ajustase ao “modus operandi” existente ou contribui para as necessárias e oportunas alterações por que passam os diferentes períodos da cultura e do comportamento humano.
Observando que a sociedade contemporânea se baseia muito no poder e no ter, predominando os valores amoedados e as posições de destaque, em uma competitividade cruel e desumana, é tomado pela ânsia de amealhar recursos para triunfar e programar o futuro de ordem material.  Não lhe ocorrem as necessidades espirituais, as de natureza éticomoral, porque tudo  lhe  parece um confronto  de oportunidades e de poderes que entram em choque, até que haja predominância do mais forte. Por outro lado, dáse conta da rapidez com que passa o carro do triunfo e procura fruir ao máximo, imediatamente, toda a cota possível de prazer e de destaque, receando o futuro, face ao exemplo daqueles que ontem estavam no ápice e agora, após o tombo produzido pela realidade, encontramse esquecidos, perseguidos ou desprezados.
Somente alguns adolescentes, mais amadurecidos psicologicamente, que procedem de lares equilibrados e saudáveis, despertam para a aquisição dos valores íntimos, da conquista do conhecimento, dos títulos universitários com os quais esperam abrir as portas da vitória mais tarde.  Assim, empenhamse na busca dos tesouros do saber, das experiências evolutivas, das realizações de crescimento íntimo, lutando com denodo em favor do auto-aprimoramento e da auto-afirmação, no mundo de contrastes e desaires. Nesses jovens, o ser tem um grande significado, porque faz desabrochar os requisitos íntimos que estão dormindo e aguardam ser convocados para aplicação e vivencia.  Nesse sentido, não se faz necessário ser superdotado.  É mesmo comum encontrar jovens com menos elevado QI, que conseguem, pela perseverança, pelo exercício, a vitória sobre os impedimentos ao seu progresso, enquanto outros mais bem aquinhoados deixamse vencer pelos desajustes, sem o empenho de superar as dificuldades. Porque reconhecem as facilidades de aprendizagem, menosprezam o esforço que deve acompanhar todo trabalho de aquisição de cultura ou qualquer outro recurso evolutivo, perdendo as excelentes oportunidades que deparam, não vencendo a barreira do desafio para o crescimento.
Permanecem com o patrimônio intelectual sem o conveniente desenvolvimento ou, quando o realizam, derrapam para a delinquência, aplicando os tesouros da mente na ação equivocada dos triunfos de mentira.
O esforço para ter surge com as motivações de crescimento intelectual e compreensão das necessidades humanas em favor da sobrevivência, da construção da família, da distinção social, das esperanças de fruir gozos naturais em forma de férias e recreações, de jogos e prazeres, projetando as expectativas para a velhice, que esperam conseguir tranquila e confortável. O ter, passa a significar o esforço pelo conseguir, pelo amealhar, reunindo  moedas e títulos que facilitem a movimentação pelas diferentes áreas do  relacionamento humano. Essa ambição, perfeitamente justa e compreensível, de natureza previdenciária  e lógica,  pode tornarse,  no entanto,  o  objetivo único  da existência,  levando ao  desespero  e à insatisfação,  porque a posse apenas libera de preocupações específicas, mas não harmoniza o ser interiormente.
Não poucas vezes, o possuir fazse acompanhar do medo de perder, gerando receios injustificáveis e neurotizantes. O verdadeiro amadurecimento psicológico do ser  propicialhe visão otimista da vida,  auxiliandoo a ter  sem ser possuído,  em desfrutar  sem escravizarse, em dispor hoje e buscar  amanhã,  não lhe constituindo motivo de aflição  o  receio  da perda,  da pobreza, porque reconhece que tudo  transita,  indo e voltando,  raramente permanecendo  por  tempo indeterminado,  já que a vida física é igualmente transitória, instável.
A verdadeira sabedoria ensina que se pode ter, sem deixar de lado o esforço por ser auto-suficiente, equilibrado, possuidor não possuído, identificado com os objetivos essenciais da experiência carnal, que são a imortalidade, o progresso, o desenvolvimento de si mesmo com vistas à sua libertação da carne, o que ocorrerá, sem qualquer dúvida, e, no momento próprio, ao encontrarse equipado de recursos para a harmonia.  Os padrões do capitalismo sempre impõem ter mais, enquanto que os do comunismo expõem suprir as necessidades básicas sob a regência do Estado, que é sempre impiedoso e sem sentimento, porque tem um caráter empresarial e nunca um sentido de humanidade. O jovem, ainda indeciso nas atitudes a tomar, não se dá conta do significado de ser lúcido e feliz, tendo ou deixando de ter, livre para aspirar o que melhor  lhe apraz e realizarse interiormente, desfrutando dos bens da vida sem escravidão, sem alucinação.
Quando o indivíduo é mais ele mesmo, identificado com a sua realidade espiritual, consome menos, vive melhor, cresce e amadurece mais, superando os desafios com otimismo e produzindo sempre com os olhos postos no futuro. Para esse cometimento, é necessário que, desde cedo, na adolescência, seja elaborada uma escala de valores, a fim de definir quais os de importância e os secundários, de tal modo que a sua seja uma proposta de vida realizadora e eficiente.
Quando deseja ter mais e se afadiga por conseguir sempre os lucros de todos os empreendimentos, a sua é uma existência frustrada, ansiosa, sem justificativa, porque a sede de possuir atormentao e deixao sempre insatisfeito, porque vê aqueloutros que lhe estão à frente e lhe fazem sombra na realização como criatura triunfadora no mundo.  Essa ambição igualmente tem início na juventude por falta de direcionamento espiritual  e emocional, tornando o adolescente um ser fisiológico, imediatista, e não uma criatura em desenvolvimento para as altas construções da humanidade.
O jovem, que deseja ser, desenvolve a sua inteligência emocional, aprendendo a identificar os sentimentos das demais pessoas, a dominar os impulsos perturbadores e insensatos, a manter controle  sobre as emoções  desordenadas, a ter serenidade para enfrentar relacionamentos tumultuados e difíceis, preservando a própria identidade.
Essa inteligência emocional depende da constituição do seu cérebro, que se modelou e se equipou de recursos compatíveis com as necessidades de evolução em razão dos seus atos em reencarnações passadas, mas que pode alterar para melhor sempre que o deseje e insista na cultura dos valores éticomorais.
É necessário ter recursos para uma existência digna, porém é indispensável ser sóbrio e equilibrado, nobre e empreendedor, conhecendose  interiormente e trabalhandose sempre, a fim de se tornar um adulto sadio e um idoso sábio.
Livro: Adolescência e Vida.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco.

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