sábado, 6 de julho de 2013

Perda de afetos

Quando a morte arrebata do convívio um ser amado, algumas pessoas perdem a vontade de viver.
De uma forma até egoísta, esquecem os que convivem no mesmo lar e se enclausuram na própria dor.
Não se dão conta que, agindo assim, maltratam os corações que os amam e que, exatamente como eles, sofrem a ausência daquele que partiu para a Pátria verdadeira.
Assim aconteceu com Hamilton, um trabalhador dos Correios. Ele era muito feliz. Pai dedicado, costumava chegar em casa e ler hist6rias para seus filhos.
À noite, antes de adormecerem, beijava-os e com eles orava, rogando a proteção dos seres imortais.
Um dia, a morte veio e ceifou a vida do seu menino de sete anos. A partir desse dia, ele começou a realizar com desleixo o seu trabalho, não mais sorriu, não contou mais histórias. Tornou-se triste e cabisbaixo. O ambiente no lar foi ficando sempre mais difícil.
Certo dia, separando a correspondência para entrega, descobriu uma carta sem envelope. O destinatário era Jesus. O endereço: Céu.
Curioso, abriu e leu:
Querido Jesus
Resolvi Lhe escrever para pedir uma coisa muito especial. Aqui em casa todos estamos muito tristes: papai, mamãe e eu.
O meu irmãozinho Felipe morreu há alguns meses. Quando ele estava conosco, adorava brincar com seu trem, sua bola e seu caminhãozinho.
Pois é Jesus, eu queria que o Senhor levasse todos esses brinquedos para ele no Céu. Tenho certeza de que ele vai querer continuar a brincar com eles.
Acredito que ele sinta falta, principalmente do trem, com que mais brincava.
Outro pedido é que o Senhor traga meu pai de volta. Não que ele tenha ido embora, mas é como se tivesse ido.
É que desde a morte de Felipe, ele não sorri, não conta histórias, nem ora mais comigo.
Eu gostaria muito que meu pai me tomasse nos braços e contasse histórias, como fazia antes.
Eu queria ver meu pai sorrir de novo. É tão bonito o sorriso do meu pai!
Eu queria que, de novo, ele viesse me dizer boa noite, orasse comigo e esperasse eu adormecer.
Era tão bom, Jesus.
Eu ouvi meu pai dizer para minha mãe que só a Eternidade poderia curá-lo.
Será que o Senhor poderia trazer um pouquinho disso para ele melhorar? Se for possível, eu ficarei muito feliz.
Assinado: Rita.
        O trabalhador dos Correios sentiu os olhos marejarem de lágrimas. Deu-se conta de como, em sua dor, fora egoísta. Esquecera esposa e filha, que também sofriam.
Naquele dia, voltou para casa diferente. Ao chegar, chamou a filha, tomou-a nos braços, estreitou-a ao peito demoradamente, beijou-a e lhe perguntou:
Quer ouvir uma história?
*   *   *
Quando a dor da separação pela morte nos ferir o coração, não nos recolhamos em concha, desistindo da vida.
A dor deve nos motivar à continuidade da luta diária, principalmente porque guardamos a lição da Imortalidade. Os que partiram estão mais próximos de nós do que possamos imaginar. E não nos esqueçamos dos que partilham conosco da mesma dor e de idêntica saudade.
Em nome do amor, não nos tornemos egoístas. Não nos isolemos, nem firamos ainda mais os que, ao nosso lado, aguardam pela migalha do nosso carinho, o sorriso da nossa ternura, nutrindo-se do nosso afeto.
Redação do Momento Espírita, com base no livro Remotos cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O Clarim. Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. Fep.

Nenhum comentário:

Postar um comentário