sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Abandonar pais, irmãos, esposa e filhos... rodolfo calligaris

“Aquele que ama a seu pai ou a sua mãe, mais do que a mim, de mim não é digno; aquele que ama a seu filho ou a sua filha, mais do que a mim, de mim não é digno”. Jesus / Mateus, 10:37.
“Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, ou seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna”. Jesus / Mateus, 19:29.
Essas palavras do Evangelho, interpretadas ao pé da letra, têm dado margem a sérios equívocos entre aspirantes à vida espiritual.
Muitas criaturas, sentindo o desejo de devotar-se aos ideais superiores, e julgando-os incompatíveis com a vida ordinária, resolvem abandonar os pais e os irmãos, ou a esposa e os filhos, para se recolherem a um claustro ou entregarem-se ao ascetismo, na suposição de que, com isso, estejam atendendo ao chamamento do Cristo.
Em verdade, porém, essa atitude não condiz com a doutrina cristã, que nos ordena honrar pai e mãe, bem assim amar o próximo como a nós mesmos.
Abandonar aqueles que compõem nosso círculo familiar, ou simplesmente deixar de prestar-lhes a devida assistência, para cuidarmos egoisticamente do próprio desenvolvimento espiritual, é tão censurável como não nos interessarmos por isso.
Talvez seja até pior, porquanto aqueles que zelam pelo bem-estar da família, que não lhe faltam com o apoio material e moral, estão cultivando o sentimento essencial do dever, e ninguém pode aspirar aos graus mais elevados da realização espiritual enquanto não haja aprendido as lições mais simples da vivência comum.
Assim, quem abandone os pais, irmãos, esposa ou filhos, quando ainda lhes seja indispensável, para consagrar-se unicamente a propósitos espirituais, será forçado a voltar à pauta dos seus deveres, porque ninguém pode avançar espiritualmente, deixando para trás obrigações e compromissos assumidos com aqueles que a providência Divina há colocado dentro do seu lar, na condição de credores de sua melhor atenção e carinho.
Por outro lado, não se devem confundir esses deveres com a preocupação doentia dos que atravessam a existência acumulando dinheiro e propriedades, para que a família herde um patrimônio, ainda que, para conseguir esse desiderato, precisem empregar a astúcia, a desonestidade, a violência e outros recursos menos dignos.
Essas obrigações familiares menos ainda devem fazer-nos esquecidos dos deveres que temos para com “os outros”; também eles são filhos de Deus, e, pois, nossos irmãos.
Não é razoável, portanto, que, por consideração à família, nos escravizemos às exigências sociais, a ponto de nunca nos sobrar uma hora para um contacto direto com os sofredores, aos quais devemos solidariedade, como não é justo despendermos com a parentela, no vicio ou no luxo, quantias que dariam pat5a atender a inúmeros desafortunados, carecidos de pão, agasalho, remédio, etc.
Devemos lembrar-nos de que nossos familiares são, como nós, espíritos em evolução e que, antes de lhes garantirmos uma boa situação material, melhor fora que lhes déssemos uma boa formação moral; que, ao invés de lhes satisfazermos a todos os caprichos e vaidades, cumpre-nos despertar-lhes, com o nosso exemplo, o gosto pela prática do Bem, fazendo-os sentir quanto é sublime renunciar a mesquinhas satisfações pessoais em favor das necessidades do próximo.
Acreditamos, mesmo, seja essa a melhor ajuda que possamos oferecer-lhes, embora nem sempre sejamos compreendidos por eles.
Resumindo: não é certo desampararmos nossos familiares, na vã tentativa de salvar-nos sozinhos, nem tão-pouco nos submetermos aos seus interesses puramente mundanos. O ideal seria conseguir e manter uma posição de equilíbrio, “dando a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Livro: Páginas de Espiritismo Cristão.
Rodolfo Calligaris.

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