sábado, 23 de agosto de 2014

O óbolo da viúva - Rodolfo Calligaris.

Tendo-se sentado defronte do gazofilácio, observava Jesus como o povo oferecia suas dádivas. Muitos dos que eram ricos deitavam ali grandes quantias. Veio, porém, uma viúva pobre que deitou apenas duas pequeninas moedas. Chamando então seus discípulos, Jesus lhes falou: Em verdade vos digo que esta pobre viúva mais deitou no gozafilácio do que todos os outros, porquanto todos os outros deram do que lhes sobrava, ao passo que ela, da sua própria indigência, deu tudo o que possuía, tudo o que tinha para o seu sustento.” Marcos, 12:41-44.
Como bem friso o apóstolo dos gentios, “A sabedoria deste mundo é uma estultícia diante de Deus”, querendo significar com essas palavras que, via de regra, o que provoca louvores entre os homens, é de somenos importância aos olhos de Deus, enquanto muita coisa que, nos passa despercebida, ou a que damos pouco apreço, tem, para Ele, o mais subido valor.
Na balança da Justiça Divina, cujo sistema de aferição de valores é bem diferente daquele em uso entre nós, não são os fatos em si mesmos o que mais pesa, mas sim o seu conteúdo humano, ou seja, o sentimento que o tenha inspirado.
Cá entre nós, nas campanhas filantrópicas que promovemos em prol, desta ou daquela instituição beneficente, sempre que logramos obter um donativo de certo vulto, enchemo-nos de entusiasmo e corremos a imprensa, para o competente registro.
Por outro lado, é com desdém, ou manifesta contrariedade, que recebemos contribuições modestas, achando que “só servem para estragar a lista” ou o “livro de ouro”.
Nossa mentalidade de analfabetos espirituais leva-nos a julgar a caridade dos homens pelas quantias que oferecem em tais movimentos, critérios esse absolutamente falso à luz do Evangelho.
Sem dúvida, toda doação é meritória, quando feita sem orgulho nem ostentação, sem outro propósito senão o de ajudar uma causa nobre. Todavia, entre a dádiva do abastado que, mesmo dando bastante, de nada se priva, e a de outro que, com sacrifício do que lhe é indispensável, cede o pouco que tem sem favor do próximo, esta a que se reveste de mérito maior.
O ensino do Mestre no episódio em tela é válido também pra outras circunstâncias em que não é o dinheiro que intervém, mas as qualidades morais, as virtudes do coração.
Muitos dos que, aqui na Terra, foram aclamados por seus feitos como “heróis” ou “grandes vultos da humanidade”, talvez se encontrem agora, nos planos da espiritualidade, atormentados abrasados de remorsos, enquanto criaturas simples, cujas existências transcorreram no ananimato, mas que foram virtuosas, gozam as bênçãos da paz e da alegria na comunhão das almas bem-aventuradas.
Inúmeras pessoas, só porque ocupam posição humilde na sociedade, julgam que Deus não se importa com elas, nem lhes irá pedir contas de como estão vivendo.
Outras, igualmente, entendem que se Deus lhes confiassem uma grande missão haveriam de envidar esforços para levá-las a bom termo, mas, como não são chamadas para nada de muito importante, descuidam de seus pequenos deveres cotidianos, por achá-los indignos de qualquer atenção, perdendo, assim, magníficas oportunidades de progresso espiritual.
Esquecem-se, umas e outras, de que cada dia, senão mesmo cada hora e cada minuto de nossa existência é uma ocasião oportuna e preciosa de trabalho e de aprendizagem que a Providência nos enseja, de conformidade com o grau evolutivo em que nos encontramos, e que somente dando fiel cumprimento a essas tarefas mais simples é que nós iremos capacitando para responsabilidades maiores.
Saibamos, portanto, dar boa conta das vibrações – ainda que obscuras e corriqueiras – com que o Senhor nos honre o caminho, na certeza de que o mais importante para nossas almas não é propriamente o quantum de “talentos” que nos são confiados, mas o que fazemos com eles.
Livro: Páginas do Espiritismo Cristão.
Rodolfo Calligaris.

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