quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Homem e Espírito.

"Em síntese, o homem das últimas dezenas de séculos representa a humanidade vitoriosa, emergindo da bestialidade primária. Desta condição participamos nós, os desencarnados, em número de muitos milhões de espíritos ainda pesados, por não havermos, até o momento, alijado todo o conteúdo de qualidades inferiores de nossa organização perispiritual; tal circunstância nos compele a viver, após a morte física, em formações afins, em sociedades realmente avançadas, mas semelhantes aos agrupamentos terrestres. Oscilamos entre a liberação e a reencarnação, aperfeiçoando-nos, burilando-nos, progredindo, até conseguir, pelo refinamento próprio, o acesso a expressões sublimes da Vida Superior, que ainda não nos é dado compreender. Nos dois lados da existência, em que nos movimentamos e dentro dos quais se encontram o nascimento e a morte do corpo denso, como portas de comunicação, o trabalho construtivo é a nossa bênção, aparelhando-nos para o futuro divino." (No Mundo Maio – André Luiz / Chico Xavier.
        Isolado na concha milagrosa do corpo, o espírito está reduzido em suas percepções a limites que se fazem necessários. A esfera sensorial funciona, para ele, à maneira de câmara abafadora. Visão, audição, tato, padecem enormes restrições. O cérebro físico é um gabinete escuro, proporcionando-lhe ensejo de recapitular e reaprender.
Conhecimentos adquiridos e hábitos profundamente arraigados nos séculos aí jazem na forma estática de intuições e tendências. Forças inexploradas e infinitos recursos nele dormem, aguardando a alavanca da vontade para se externarem no rumo da superconsciência.
No templo miraculoso da carne, em que as células são tijolos vivos na construção da forma, nossa alma permanece provisoriamente encerrada, em temporário olvido, mas não absoluto, porque, se transporta consigo mais vasto patrimônio de experiência, é torturada por indefiníveis anseios de retorno à espiritualidade superior, demorando-se, enquanto no mundo opaco, em singulares e reiterados desajustes.
Dentro da grade dos sentidos fisiológicos, porém, o espírito recebe gloriosas oportunidades de trabalho no labor de auto-superação.
Sob as constrições naturais do plano físico, é obrigado a lapidar-se por dentro, a consolidar qualidades que o santificam e, sobretudo, a estender-se e a dilatar-se em influência, pavimentando o caminho da própria elevação.
Aprisionado no castelo corpóreo, os sentidos são exíguas frestas de luz, possibilitando-lhe observações convenientemente dosadas, a fim de que valorize, no máximo, os seus recursos no espaço e no tempo. Na existência carnal, encontra multiplicados meios de exercício e luta para a aquisição e fixação dos dons de que necessita para respirar em mais altos climas.
Pela necessidade, o verme se arrasta das profundezas para a luz.
Pela necessidade, a abelha se transporta a enormes distâncias, à procura de flores que lhe garantam o fabrico do mel.
Assim também, pela necessidade de sublimação, o espírito atravessa extensos túneis de sombra, na Terra, de modo a estender os poderes que lhe são peculiares.
        Sofrendo limitações, improvisa novos meios para a subida aos cimos da luz, marcando a própria senda com sinais de uma compreensão mais nobre do quadro em que sonha e se agita. Torturado pela sede de Infinito, cresce com a dor que o repreende e com o trabalho que o santifica. As faculdades sensoriais são insignificantes réstias de claridade descerrando-lhe leves notícias do prodigioso reino da luz.
        E quando sabe utilizar as sombras do palácio corporal que o aprisiona temporariamente, no desenvolvimento de suas faculdades divinas, meditando e agindo no bem, pouco a pouco tece as asas de amor e sabedoria com que, mais tarde, desferirá venturosamente os vôos sublimes e supremos, na direção da Eternidade. (Roteiro – Emmanuel / Chico Xavier)
As incógnitas da vida exterior, com os desafios delas resultantes, são as mesmas; entretanto, se a criatura aspira efetivamente a realizar uma tomada de contas encontra neste novo mundo surpresas, muito fascinantes, no estudo e redescoberta de si mesma. Somos, cada um de nós, um astro de inteligência a perquirir e a aperfeiçoar por nós próprios. (E A Vida Continua – André Luiz / Chico Xavier).

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