domingo, 24 de novembro de 2013

JESUS E INIMIGOS

O progresso tecnológico, favorecendo o conforto, implacavelmente nivela os homens em uma só faixa, produzindo um tipo de igualdade desumanizadora que o consumismo estabelece como logro social relevante.
Por efeito, uma comunidade é tida como feliz em razão dos instrumentos eletrônicos de que dispõe, dos automóveis, iates e até aviões que aguardam para serem utilizados.
Os modismos assolam, gerando um comportamento mesmista, em que os indivíduos se imitam, assumindo posturas idênticas, com enfraquecimento dos ideais, da ética, da família, da criatura em si mesma.
Reagindo a tal conduta, multiplicam-se aqueles que se apresentam originais, já não surpreendendo pelo exotismo e desprezo a tudo e todos, denominados como “reacionários por protestos”, de imediato aceitos, imitados e absorvidos, logo passada a novidade.
Tais posturas escondem os chamados complexos coletivos, que destroem a vida, instalando o clima de indiferença, quando não de instabilidade nas pessoas.
Há modelos para todos os nivelamentos de indivíduos com injustificável desprezo pela sua identidade humana.
Sufocado pela falta de humanidade, o homem busca refúgio nos partidos políticos, nos clubes sociais e desportivos, nos aglomerados, temendo enfrentar-se.
Permanece na multidão, sofrendo de insuportável soledade.
Vê inimigos em toda parte e busca afastá-los, usando artifícios segregacionistas de vários tipos, embora fantasiando-se de democrata e solidário.
* * *
Os inimigos mais cruéis, todavia, permanecem no imo das próprias criaturas, que os vitalizam com o orgulho, o egoísmo e o disfarce da acomodação social aparente.
Jesus soube identificá-los, como jamais alguém logrou fazê-lo em tal profundidade.
Ouvia os Seus interlocutores, que embora dissimulassem os motivos reais que os assinalavam, não conseguiram passar despercebidos.
Diante da Sua visão penetrante se desnudavam os hipócritas e enganadores.
A Sua posição moral impunha-se-lhes, no entanto, e Ele os enfrentava com amor ou energia, conforme a circunstância e a intenção de que se revestissem; sempre porém generoso.
Levava cada um a auscultar-se e adentrar-se, a fim de extirpar as matrizes do mal em desenvolvimento.
Logo depois, estimulava-os ao crescimento pessoal, desarticulando os mecanismos mentais e sociais que conspiravam para a decadência geral, pela queda do nível cultural e emocional que deve constituir a base da sociedade.  
*  * *
Em a negativa de Pedro, três vezes repetida, a respeito do amigo, temos uma lição de grande magnitude, porqüanto, tão logo ele veio a cair em si, chorou amargamente”. (*)
A explosão das lágrimas foi-lhe a oportuna catarse liberativa do arrependimento que o poderia neurotizar, levá-lo, como aconteceu a Judas, ao suicídio infame.
Reergueu-se da queda, venceu o medo inimigo e a pusilanimidade adversária, dando, a partir dali, todo o restante da vida ao serviço de reparação pelo bem.
Jesus, por Sua vez, aceitou-lhe a oferenda de amor, utilizando-o no Ministério. O Mestre conhecia-o. Por isso, anunciara-lhe a defecção porvindoura, as fragilidades, apontando-lhe os inimigos internos que deveria combater.
* * *
Não temas enfrentar as tuas sombras, esses inimigos que vigem em ti mesmo.
Fortalece o ânimo e concentra-te em Jesus, a própria terapia atuante.
Deixa que a tua emoção O alcance.
Não tenhas medo destes adversários com os quais convives sem saber.
Identifica-os, um a um, desembaraçando-te logo após da pressão que exercem sobre ti.
Recupera a tua humanidade, sendo tu mesmo.
Convive com todos no teu grupo social, mas preserva-te, sem seguir os modelos fabricados pelo consumismo devorador e neurotizante.
Permanece aberto à renovação, à diversidade, à tua identidade.
Desprovido de prevenções e precauções perturbadoras, gozarás de otimismo, fator essencial a uma vida sadia e a um inter-relacionamento social saudável.
Livro: Jesus e a Atualidade.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco.
(*) Jesus / Mateus: 26,75. “E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E saindo dali, chorou amargamente.”

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